“Memórias da Boca do Lixo” é o título do programa que será exibido pelo Cineclube Alexandrino Moreira, do Instituto de Artes do Pará (IAP), nesta segunda-feira, dia 8, às 19h. Integram o programa os filmes “Boca Aberta” (Rubens Xavier, SP, 1984), “Candeias: da Boca pra fora” (Celso Gonçalves, SP, 2002), “O Galante Rei da Boca” (Alessandro Gamo e Luís Rocha Melo, SP, 2003) e “Soberano” (Ana Paula Orlandi e Kiko Mollica, SP, 2005).
A Boca do Lixo é uma região do centro de São Paulo tradicionalmente marcada pela prostituição e criminalidade. No final dos anos 60, vários pequenos produtores transferiram suas empresas para a região, que ao longo da década seguinte se tornaria um dos maiores pólos de produção de filmes comerciais da história do cinema brasileiro.
Comédias eróticas, filmes policiais, fitas de terror e até mesmo westerns estão entre os gêneros explorados pelos diretores e produtores da "Boca". Responsável por muitos dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional entre o final dos anos 60 até a "era Collor", o cinema popular produziu na "Boca do Lixo" começou a perder fôlego no início dos anos 80, quando o mercado brasileiro foi invadido pelos filmes americanos de sexo explícito. A pá de cal no cinema da "Boca" veio com a extinção, nos anos 90, dos mecanismos que fiscalizavam a obrigatoriedade de exibição do filme brasileiro no mercado nacional.
O programa exibido pelo Cineclube Alexandrino Moreira integra o acervo da Programadora Brasil, do Ministério da Cultura. Os quatro documentários mantêm um olhar reverente sobre a Boca do Lixo, segundo explica o crítico Paulo Santos Lima, para quem o cinema da Boca foi “a única grande experiência de cinema popular da nossa história”. “Se o senso comum, equivocado, senão injusto, caracteriza esse cinema como agressão ao bom gosto, sem grandes formalismos estéticos e focando apenas o apelo ao sexo, a história confirma o oposto. Nos arredores da Rua do Triunfo, na região central de São Paulo, houve um trânsito de várias pessoas ligadas ao cinema”, diz ele, citando nomes como Walter Hugo Khouri, José Mojica Marins, Carlos Reichenbach e Sylvio Back.Ainda segundo o crítico, o resultado foi um grande ecletismo temático e estilístico de longas, quase todos financiados pelos próprios exibidores locais, obtendo retorno comercial e fazendo frente à produção norte-americana.
Sobre os filmes - “O Galante Rei da Boca”, de Alessandro Gamo e Luís Rocha Melo, trata do produtor Antonio Pólo Galante, cuja história confunde-se com uma grande radiografia do que foi feito naqueles anos. Entrevista intelectuais como Inácio Araújo (também realizador, na época) e João Silvério Trevisan, além do montador Severino Dada, que fala sobre o Cinema do Beco, versão carioca da Boca, na região da Cinelândia.
“Soberano”, de Kiko Mollica e Ana Paula Orlandi, centra-se no lendário restaurante Soberano, ponto de encontro da hora cineasta. Com imagens zapeadas (fotografadas por Aloysio Raulino) intercalando cenas de época e depoimentos, o tom é de velório, mas sem autocomiseração. O estabelecimento lutava desde a decadência do ciclo da Boca, nos anos 80, com a invasão do cinema hardcore americano no circuito popular, fechando suas portas em 1995.
“Candeias: Da Boca pra Fora”, de Celso Gonçalves, mostra o cineasta Ozualdo Candeias, que já nos anos 60 fizera o filme que pode ser considerado, junto a “O Bandido da Luz Vermelha”, de Sganzerla, o fundador do Cinema Marginal: “A Margem” (1957). Vestido com seu capacete, sem uma única frase audível, indecifrável, quase oco, é definido no filme por admiradores como Carlos Reichenbach, Inácio Araújo e Jairo Ferreira.
“Boca Aberta”, de Rubens Xavier, com roteiro de Maria Rita Kehl, é um docudrama que encena algumas situações para os depoimentos do cineasta Ozualdo Candeias. O principal é acerca dos filmes de sexo explícito, feitos a contragosto por necessidade material. Assim com a maioria dos entrevistados nos quatro filmes deste pacote, Candeias reclama veementemente sobre o fim da Boca, mas não baixa a cabeça.
“Memórias da Boca do Lixo”Segunda-feira - Dia 08/06Horário : 19hCineclube Alexandrino Moreira -Instituto de Artes do Pará (IAP)Entrada Franca.